segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Pode sonhar, Alice.

Certa noite eu tive um sonho. E caminhando pelo surreal eu te encontrei. Tudo se misturou, como se eu estivesse entrando no mundo de Alice.

Sonhei, apesar de parecer muito para poucas horas de sono, que passava toda a vida ao seu lado. E isso me assustou um pouco. Não havia Gato de Cheshire para me instigar a razão nos momentos em que eu parecia querer surtar. Te deixar entrar no meu mundo foi com
o mergulhar naquele mundo confuso de Alice, que eu não conhecia e não tinha ideia de que caminhos seguir. 

Mas, diferente dela, eu sabia onde queria chegar. "Quando não sabe onde quer chegar, qualquer caminho serve". Acho que aqui o meu mundo e o da menina loira com laço de fita nos cabelos se divergem. Eu sabia, mesmo que o caminho parecesse tortuoso e espinhento, por vezes, qual era a minha meta. 

E esta era não mais caminhar sozinha, e sim te ter comigo por toda a rota, mesmo que isso significasse ter mais alguém além de mim para cuidar, para proteger. Mesmo desconhecendo o que nos esperaria por essa longa caminhada. Mesmo que, por vezes, eu tropece pelos galhos e pedras, por estar apavorada demais com sombras e sons estranhos de monstros que parecem querer nos devorar. 

Porque, no fim da contas, segurar tua mão, não importam as flores ou as feras que venham a aparecer, me traz conforto, confiança e coragem para essas andanças. Com esse amor onírico que me faz mais feliz. Por favor, não me acordem antes do fim.


Mayara S.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012


Não era de jogo, mas recebeu uma carta-curinga.
Amizade, ombro para as tristezas, companheirismo e muito humor.
Toda polivalência possível.

♥ 5 meses.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Chaplinismos

Durante o final de semana, como atividade para casa que se completaria hoje em sala, a professora de História da Arte e da Cultura nos deixou a tarefa de assistir ao filme O Grande Ditador, de Charlie Chaplin. Eu, em minha completa falta de foco para assistir a um filme do começo ao fim sem pausas, acabei por não assistir aos 30 minutos finais. E, durante a não muito longa discussão em sala, a professora distribuiu um texto, com linhas gerais sobre o valor crítico desta produção, constando uma citação dos minutos finais - aqueles mesmos que deixei de ver. Ei-la, com alguns cortes:
"O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos ..... A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio....... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios....... Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco..... Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido."
  (Discurso final do filme O Grande Ditador)
Também durante a semana passada, para as aulas de Questões Contemporâneas, um amigo e eu ficamos encarregados da discussão sobre um capítulo de um livro de Pierre Lévy, O Manifesto dos Planetários, em que a ideia contemporânea não foge tanto a este discurso de Chaplin.

Mas o que me encheu de curiosidade mesmo foi a produção cinematográfica. Muita gente fala sobre a genialidade do Chaplin, porém somente agora - e por causa da disciplina do curso - parei para assistir a algo dele. E percebo como é mais fácil, mais cômodo, a gente ceder às mágoas, às intrigas, aos rancores. Fazer uma guerra por pouco ou nada. Não exercitar o perdão - e tantas vezes deixamos de perdoar a alguém por não nos perdoarmos primeiro por ter-lhes confiado algo. Não se policiar contra os maus pensamentos. Preferir as fofocas - as "cobrices" - ao invés de exercitar apenas as conversas produtivas, ou felizes, ou mesmo banais, mas que a ninguém prejudiquem. O portão que se abre para os sentimentos ruins muitas vezes é extremamente mais atrativo que a portinhola da Alice para as coisas boas. Mas há dois dias percebi o quanto tenho me deixado envenenar por certas mágoas e rancores, que me fervem o estômago apenas com a lembrança, e que não trarão bem a ninguém, apenas mal para mim mesma. Adoecem-me a alma.
"Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura." Agora tenho alguém ao meu lado que me proporciona cada uma destas três coisas. E concluí que quero continuar a exercitar a inteligência, entretanto, adicionar ainda mais afeição e doçura à minha vida, que tenho deixado amargar pelas demais coisas, tão pequenas coisas. Por uma vida mais chapliniana.

Mayara S.



P.S.: O trecho completo do discurso.

sábado, 27 de outubro de 2012

Ainda é segunda.
Aquela preguiça que só um início de semana, após um curto descanso e o desejo de mais conseguem causar nas pessoas. E apesar disso, tenho algo que me anima. Ainda é segunda: eu te amo.

O corpo e a mente começam a se reacostumar à rotina. Dá-se continuidade às responsabilidades de forma nem tão tediosa assim. Terça-feira. E eu te amo.

Começa o quarto dia útil e a empolgação parece reaparecer. Falta pouco para a sexta-feira. It's Wednesday! And I love you.

Mais um dia se passa, e não é só mais um dia. Pessoas muito significativas agora fazem, efetivamente, parte de mim. É quinta-feira. E eu já disse que te amo?

É fim de sexta, te amo uma semana mais, para te amar mais um final de semana inteiro. Já são 10 semanas. E eu te amo.

Mayara S.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Tocaia do náufrago

Quando pensa que tudo está pelos caminhos, para. Pensa. Revê a caminhada.
A meta é a mesma, bem como a direção parece ser. Mas por que tão sinuoso caminho? Apesar de andar para o almejado, parece, este trajeto, torto, empenado.

E como saber se está, de fato, correto? Como não temer, tão breve, que tudo se esfacele?
E, ao navegar, barco desorientado, não naufrague e se afogue em tão raso mar?


Mayara S.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

"Ai, meu Deus! Vou pegar o xarope."


Ah! Que dias para testar meus batimentos!
A vida deveria criar um sistema de créditos para as TPMs - tensões pré-monográficas. Têm a mesma intensidade das menstruais, com a diferença que duram 6 meses, não 7 dias. Ah, maldita!
Mas se para a Rochelle toda dor se resolve com um xarope, o meu tem duas pernas e cachos. Sim, xaropes ajudam a melhorar muita coisa.
E talvez quando o tombo esfriar e parar de doer tanto, eu consiga ver alguma graça ou lado positivo nisso tudo. Enquanto isso tiro proveito de cada minuto, cada abraço, cada afago regado a vinho, lasanha e coca. É o xarope que entorpece para os males da alma.


Mayara S.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Primeiro mês.


Desejo teus abraços a cada dia, até a pouca melanina se esvair dos meus cabelos, até a pele perder a elasticidade. Cada ruga surgida enquanto te tenho comigo será de sorrisos, nos cantinhos externos dos olhos, de felicidade.

E mesmo com os movimentos restritos e mais lentos, e a memória teimando em falhar, me lembrar de desejar que aquelas histórias de reencarnações sejam verdadeiras, só para eu ter esperanças de viver mais infinitas vidas ao seu lado.

Tua mão na minha: armadura contra as infelicidades. Teu colo: minha canção de ninar. Teu amor que me afaga e faz meus dias mais felizes.

Trinta dias de saudades diárias, amenizadas por poucas míseras horas durante um dia no final de semana. Quatro semanas de sorrisos com mensagens ao acordar e dormir. Um mês de amores, que anestesiam boa parte das minhas pressões e preocupações. Apenas o primeiro da vida.

Te amo, hoje um mês mais. 

A/c: Jônatas Freitas.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Por conta de dez centavos.

Aquela moça estranha, remexendo nas moedas, observando detalhes, naquela temperatura escaldante que só essa cidade sabe emitir. Dez minutos. Vinte. Nada do seu ônibus aparecer.
Chega uma mulher, senta-se ao seu lado e a encara. Não é a primeira vez, e apesar de causar-lhe constrangimento, ela já se acostumou. Debaixo desse sol de 40 graus é mesmo surpreendente que sua pele ainda não tivesse sido castigadamente queimada. Ela até tenta imaginar como fugir de um câncer de pele nas próximas décadas. 
Mas o que a entretém mesmo são as moedas. Durante aquela espera prolongada, pelo transporte azulzinho que parece fazer questão de demorar, o que lhe resta é observar banalidades. 
O ano é 2012 e ela para e olha atentamente. 1994. Aquela mísera moeda de R$0,10 foi cunhada em 1994. Tinha apenas seis anos e também passava por mudanças. Mudança de escola. E aí sua timidez aflorou, a moça consegue se lembrar. Gente nova, estranha, o projeto de capeta agora se envergonhava. Não tinha coragem de levantar a mão sequer para pedir para beber água ou ir ao banheiro. Gente estranha sempre a apavorou, e ficar cercada assim só piorou tudo. A criança danada, que pulava janelas, tomava as tarefas dos colegas para ela própria terminá-las agora se via por demais retraída. Dezoito anos depois ela ainda tem que lidar com isso.
Ela não sabia ao certo o que queria ser na vida. Naquela cerimônia de encerramento do Ensino Infantil todas as crianças ao redor sabiam que profissão desejavam. Mas ela cuspiu a primeira coisa que lhe veio à mente. Não imaginava que quase duas décadas depois ainda sentiria essa indecisão. Que faria algo que gosta, mas que teria tantas outras mais que fariam seus olhos brilharem. Não imaginava que gordinha ainda seria por boa parte da sua vida. Que teria um câncer aos 19. Que, aos 22, faria uma redução de estômago - como uma criança imaginaria isso? - para só então ter um aspecto mais saudável e agradável aos seus próprios olhos. Que passaria por tantos amores, desamores, aventuras e desventuras, ao longo das décadas. Que se preocuparia tanto com prazos, horário de sono, com emprego ou plano de saúde. Que viveria um amor tão forte que a faz levar mais fácil todas as preocupações supracitadas. Não, não imaginava nada disso. Nem poderia. Estava com a cabeça onde deveria estar: aprender a ler, escrever, fazer umas contas bobas de matemática e brincar. Além de contornar o mandonismo da irmã mais velha que insistia em colocar-lhe de castigo como se sua mãe fosse.
E é no improviso, dançando e fazendo piruetas na corda bamba pra lidar com as piadas - inclusive o esporádico humor negro - da vida que ela vai a caminho da terceira década.
Que seja feliz rumo ao 25º ano. É o único desejo certo que ela tem.


Mayara S.
Excessiva calma que apavora. Ausência quase total de sons, em que só é perceptível o pulsar do coração e até a respiração parece tão tranquila a ponto de quase não existir. É ela quem assusta; a possibilidade de um caos muito próximo e o corpo relaxado, flácido, despreparado para a fuga quando esta se fizer necessária.
Talvez seja relevante a retaguarda, o sobreaviso. Dormir sem relaxar completamente, pronta para o contra-ataque. Ou talvez sejam apenas delírios de quem precisa estar envolto em algum tipo de sentimento, da taquicardia constante, só para o coração não desacostumar.

Mayara S.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Teia

Casa
trabalho
amor
amizades
saúde
diversão
responsabilidades.
A vida
embaraça
entremeia
entrelaça
Tudo-tão-entranhado
Cadê minha caixa do nada?

Mayara S.

Acalanto

É num teu abraço que me acalmo. Toda aflição, toda angústia - tudo parece se anestesiar. Estar envolta em teus braços é a materialização na segurança que me proporcionas, como ser escoltada por uma matilha. Como a cria de uma mãe leoa.
Não que tua companhia suma com os problemas; isto é uma infelicidade. Mas dá-me o conforto de saber que não estou só, e mesmo que tudo dê errado, ainda tenho você. E isto me basta.

Teu abraço, minha canção de ninar.

Mayara S.

sábado, 8 de setembro de 2012

Aflição que te toma o peito,
te toma o ar,
toma tudo o que te faz viver. 
Adormece-te para o resto do mundo,
sem te deixar adormecer. 

Mayara S.

domingo, 2 de setembro de 2012

Sob tuas telhas


Chego ao portão e já sinto teu cheiro - está por toda a casa, inebriante. 

Entre um beijo e outro, o ouvido encostado no teu peito, sinto-o pulsar. O meu, tão forte, que a certa altura já não sei o que é meu, o que é teu, ou se é nosso.

Entre silêncios e piadas bobas, o abraço que poderia durar uma vida. Cada sinal, cada curva, cada pelo despontado da barba. Percorro minha mão no teu rosto, pedindo que fosse possível que o mundo se esquecesse de nós pela próxima semana. E poder aproveitar uma centena de minutos assim.

Amanhecer-te em mim.


Mayara S.

domingo, 26 de agosto de 2012

Chico e Los Hermanos sabem o que falam.


      - Por que demoramos tanto para ficar juntos?
    "Porque fui estúpida todo esse tempo e ceguei para o seu valor. E corri atrás de quem nunca, de fato, gostou de mim. Eu fui apenas tapa-buracos." - Ela pensou. Mas naqueles centésimos de segundo entre a pergunta e a resposta em voz alta, soou-lhe mais apropriado dizer-lhe apenas: "Pelo menos agora sei dar valor a cada minuto que passo contigo", naquela mesma voz falha de uma semana antes, quando, depois troca de carinhos - de carícias - ele a pediu em namoro. Mas isso não tornou a resposta menos verdadeira. Chico Buarque já cantou: 

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio


        Se não tivesse sido boba, desperdiçado sua companhia, meses atrás, na esperança por alguém que nunca lhe gostou de fato, estariam juntos, assim, oficialmente, para chamar de meu e minha namorado(a), tão logo quanto. Mas talvez ela precisasse sofrer, se magoar, ouvir desculpas polidas disfarçadas de preocupação com o que chamaram de amizade, para enxergar, muito limpidamente, que este é a melhor companhia e companheiro que ela poderia conhecer. E o mais estranho de tudo é que ele sempre lhe vinha à cabeça. Mas ela achava isso errado, era como ser apaixonada por duas pessoas ao mesmo tempo, numa espécie de bigamia que parecia-lhe imoral. E mesmo assim, ele sempre estava lá.
      Ela, ansiosa e tão instável quando nitroglicerina, aprende com ele a levar os dias com mais calma, posto que é a serenidade em forma de gente - e cachos. Aprende que não é preciso tagarelar o tempo todo, que o silêncio não é constrangimento. E que ela pode amar e ser amada de volta, com muita franqueza.
     Aquele medo da rejeição repentina se esvai cada dia a mais. No lugar disto nasce e cresce um amor, daqueles dos quais ela sempre fez objeto de deboche, como se fruto de uma novela mexicana. Desses que tiram-lhe o sono no meio da madrugada, que sobressalta-lhe apenas com um bip de mensagens no celular, ou dá-lhe calafrios horas antes do reencontro. Porque a sensação é a de que, cada dia passado e aumentado esse amor, tudo recomeça: a ansiedade pelo encontro se renova, as mãos suando frio, as pernas a tremer ao ver-lhe já a poucos metros de distância, e a vontade de abraçá-lo e congelar o resto do mundo enquanto vive o seu amor com a intensidade que gostaria. E, apenas de lembrar-se das declarações de amor, chora. Mas desta vez, não mais a tristeza ou a mágoa constituem as lágrimas. É a felicidade por ter a sorte de alguém assim, de índole tão boa, que a faz tão bem, e que apesar de todos os erros, todas as mancadas, ainda a quer para si. E ela adormece, naquele choro baixinho, contido, e feliz, a relembrar o "eu também te amo, eu também te amo mesmo",  enquanto cantarola mentalmente:

Eu encontrei quando não quis
Mais procurar o meu amor
E quanto levou foi pr'eu merecer
Antes um mês e eu já não sei
E até quem me vê lendo o jornal
Na fila do pão, sabe que eu te encontrei
E ninguém dirá que é tarde demais
Que é tão diferente assim
Do nosso amor a gente é que sabe...


(Mayara S.)

quinta-feira, 23 de agosto de 2012


Sou aquela que escreve pela dor, pela tristeza.
Medíocre cronista, por faltarem-lhe as palavras.
Que sente, forte o suficiente para fazer bater mais forte o equivalente a dez corações, e simplesmente não pode traduzir este signo em palavras. Posto que é verdadeiro, feliz, intenso a ponto de sufocar, por vezes. Mas que provoca sorrisos no mais ansioso dos dias. Não, não há um significante profundo o suficiente para definir isso em uma palavra. Só é. E é feliz.

Sou feliz contigo, Jônatas Freitas. ♥

Mayara S.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

De Stephanie a Stéphane

Ganha o nome de uma princesa quebradora de regras, justamente pela personalidade desta. Mas um tiro que sai pelo lado errado. Deveria ser sobre a sociedade, mas se esquecem que a família é o primeiro círculo social do indivíduo. E o primeiro a ser conflitado.

Não me exija adequação às normas. Tuas verdades muitas vezes não irão condizer com as minhas. Não que eu ou você estejamos mais ou menos corretos.
Talvez a causalidade dos nomes homenagiosos tenham sido falhos pra ti. Agora é tarde: tal qual para a família Grimalde.


Mayara S.
Eu minto! Minto ao dizer que prefiro o morno e tranquilo. Odeio sentimentos que incendeiem meu peito, mas é ainda mais insuportável não ter o que o alimente.
Talvez seja essa tal de síndrome que muitas mulheres têm, entre os últimos dias férteis do mês e a expulsão da descamação do útero em forma de uma maré vermelha. É o corpo te implorando para cumprir o ciclo, mais uma vez, da procriação. Não adianta, dizem que somos evoluídos se comparados a outros animais porém a fisiologia feminina ainda nos prega peças. De mal gosto, convenhamos.

Mas não era a intenção tentar justificar tantas mudanças de humor. É somente ratificar aquela manjada teoria de que nós, mulheres, somos complicadas. Não importa quão mal humoradas estejamos: ainda assim esperamos manifestações de amor de volta. Uma cara triste como um pedido de carinho. Um "eu te amo e tudo vai se ajeitar" quando você confessa querer destruir o mundo usando apenas uma mão, e com requintes de crueldade. Amor - e sua correspondente demonstração - pode sanar tristeza, melancolia e até mesmo as temidas TPMs. Joguem o Rivotril mensal e medique com carinhos. Sane-me, meu bem.

Mayara S.

De café morno a vodka

É bem verdade que sempre fui extremista. De não sentir nada ou me entregar pra valer, até que, bem como fogo de palha - uma comparação ordinária, porém cabível -, todo esse fervor passava, eu enjoava tal qual criança quando o brinquedo novo perde a graça.

Mas aí você envelhece - e talvez o cérebro e o resto do corpo não tenham mais a mesma disposição para tantas euforias como antes. Para alguém que sempre foi 8 ou 80, gostar de café morno é algo peculiar. Nunca me aprouve sentir a bebida amarga pelando a língua e queimando a garganta. Parece destruir as papilas e prejudicar o sabor final. Vai ver isso simplesmente contaminou o restante do meu sentir.

Ter o peito em ebulição agora dói. Porque uma hora os hormônios do prazer acabam e vem a tristeza, na mesma proporção, para equilibrar. Ou a raiva. E o peito fica agitado na mesma intensidade, mas de forma prejudicial. A serotonina dando lugar ao cortisol.

Dizem que a esperança é a última que morre, mas ninguém conta que ela ajuda a matar aos poucos. Ora, ela surge de forma insistente e com assuntos inapropriados. Logo, morremos de aflição pela expectativa antes que ela possa se esgotar.

Tenho-na como um cão em guia retrátil, dando-lhe mais ou menos corda conforme a ocasião permite; procurando pingar água gelada quando quer esquentar em excesso ou riscar um fósforo com um pouco de conhaque se ameniza demais. Que me queime, hoje o que agrada é apenas um bom vinho ou uma mistura doce com vodka. Mas nunca deixo de alimentar as brasas, que queimam lenta mas longamente, e apesar de não emanar tanto calor, não me deixam passar frio. 

Mayara S.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Rasga a carne
em mil pedaços
E se faz inteiro. 

Mayara S.


Quanta vida pode existir em uma rua?

            Centenas, ou talvez milhares, de pessoas transitam pelo calçadão diariamente. Uma profusão de mentes circulantes, com suas preocupações e meias peculiaridades. Tem aquela senhora robusta, com seus setenta e poucos anos, no seu vestido branco com estampa preta e indefinida, caminhando desengonçada. A mulher que leva a garotinha, provavelmente sua filha, pela mão, vestida numa malha rosa e tutu de bailarina, de tal forma que suas jovens perninhas quase não acompanham o andar apressado da suposta mãe.
            Também transitam jovens em uniforme escolar, alguns saídos das longas aulas que acabam após as 14h, outros simplesmente as gazeiam; o ambiente escolar é lindamente tedioso aos dezesseis anos. Tem aquela moça jovem, em sua camisa social branca aprumada por dentro da saia-lápis de cintura alta – arrisco dizer: um uniforme de trabalho -, que corta a rua cheia de pressa, com caixas empilhadas nos braços.
            Aquela profusão de sons; algumas lojas sintonizam nas rádios FMs, outras colocam suas propagandas e promoções repetitivamente tarde adentro. E ainda há aqueles em clima junino, pelos quais passamos a ouvir antiguidades, como “eu vou me atrepar num pé de coco, pra saber se o coco é oco, pra saber se o coco é oco...”.
            Crianças... Sempre há crianças a repuxar os braços cansados dos pais, encantados com algumas vitrines infantis. Ou com o ambulante que vende os irritantes brinquedos de bate-bolas, que parecem se multiplicar tão rápido quanto baratas. Sim, é possível ser uma velha ranzinza aos 23 anos.
            E mesmo com as altas temperaturas teresinenses, há os casais de jovens, às 15 horas de uma quarta-feira, a conversar timidamente sentados nos bancos, de mãos trêmulas pela proximidade, pelo desejo e pela timidez. Ou o vendedor idoso do carrinho de água de coco, que conversa simpaticamente, como se não houvesse todo aquele barulho, calor, mau humor de alguns compradores ou cansaço por passar o dia em pé, a trabalho.
            O sol cai, o movimento diminui, trabalhadores se preparam ansiosamente para o descanso. Baixam as portas do comércio; o senhorzinho – aquele mesmo da água de coco -, vai para casa, ainda com seu sorriso convidativo para jogar conversa fora, apesar de exausto, e a rua se prepara para dormir. E acordar na manhã seguinte novamente, com outras tantas pessoas pulsando como sangue, em um bater de coração, dando-lhe vida novamente.

Mayara S.
20/06/2012
Rua Simplício Mendes, THE/PI 

terça-feira, 17 de julho de 2012

Aquela sensação desconfortável do coração acelerado.


Aquela sensação desconfortável do coração acelerado.


Tão melhor quando é num teu abraço, encostada a cabeça no teu peito, e ouvir o pulsar frenético do teu em parceria com o meu. Aquele amplexo que eu peço ao universo pra durar pra sempre e acaba em tão pouco tempo. Que me viciou como uma droga feliz e me faz abstinente poucas horas depois. 
Já alguns dias de contato escasso, e é tanta ânsia pela tua volta, por repetir o ritual da tua companhia, que o passar devagar do tempo me deixa infeliz. E a incerteza de que outra possa estar desfrutando disso, que me faz tão bem e eu, tão egoísta, desejo somente pra mim, me aperta o peito.

Aquela sensação desconfortável do coração acelerado.

São poucos dias, eu sei. Mas um simples "bom dia" já amenizaria essa angústia. Porque ele bate, mas bate só. Ou talvez nem bata, mas a toda essa distância é como parece. Não posso sentir o teu pulsar junto ao meu. Não posso sentir teus braços, tuas mãos, teu corpo no meu. Nem desejar que todo mundo ao redor congelasse, o tempo parasse e só existíssemos nós dois. Bom, até dá. Mas seria um você existindo muito longe de mim.

Aquela sensação desconfortável do coração acelerado.

O desejo que o universo seja complacente e os dias não se demorem. Que você chegue e essa impressão de viver um personagem de novela mexicana se vá. E eu te abrace de novo. E de novo. E aquela sensação maravilhosa do coração acelerado retorne.


Mayara S.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

O silêncio também é conversa

Descansam as cordas enquanto os corpos se tateiam em uma sincronia quase ensaiada, de gestos espontâneos, impulsivos, conversando em pele enquanto os pelos se eriçam em gritos de satisfação.
Não foi preciso pronunciar uma única palavra e, ainda assim, um diálogo extenso. Intenso.

Mayara S.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Corações desabrigados



Ah, esses coitados sem-teto! Chove granizo, ventos fortes lhes cegam com a areia que teima em acertar os locais mais incômodos, o sol forte resseca seu revestimento. Natureza quase impiedosa. Nessas condições, quando todos os lares parecem ocupados, na sua lotação máxima, tais seres se protegem como podem. 

Alguns criam resistência às intempéries, outros se conformam com abrigos temporários, que lhes tragam proteção e um mínimo de conforto, mesmo que momentâneos. E partem para o próximo quando estes já não suprem as necessidades mínimas. Outros se apertam como podem, aceitando viver apertadinhos junto com outros, dividindo tudo minimamente, na esperança de ganhar um pouco mais de espaço mais adiante. 

Mas a constante mesmo é que eles sobrevivem. Mesmo que pouco alimentados, dos mais diversos sentimentos, ou algumas vezes maltratados. Uns se alimentam de tal forma que a indigestão não perdoa; uma hora gorfam tudo o que colocaram pra dentro. Mas vivem. Sempre dão um jeito. Mesmo que sob uma coberta esfarrapada, num cantinho apertado, para se proteger da chuva.


Mayara S.
Inspirada por Gildean Tiago

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Tanta atenção à fala
quando as cordas vocais me amarram.
Deixa-me expressar pelo corpo, leve e livre, como uma transcrição sem palavras da alma, os sentimentos pelos sentidos. Dança solta e baila a vida.

Mayara S.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Um contrato de aluguel qualquer.

Senhor inquilino,

O prazo do contrato estabelecido por vossa senhoria já expirou. No entanto, no local ainda se encontram alguns de seus pertences, o que atrapalha o negocio locatário.
Tendo em vista esse impasse, requisita-se uma renovação do contrato ou a desocupação total do imóvel. Desta forma, outros inquilinos mais interessados podem ocupar o lugar. Pensando no bem estar de todos, agradecemos a sua atenção.
Caso a resolução já tenha sido tomada na data do recebimento desta carta, favor desconsiderá-la.

Atenciosamente,

A Direção.

Mayara S.

sexta-feira, 23 de março de 2012

sábado, 10 de março de 2012

sexta-feira, 9 de março de 2012

Vai chover



As gotas caem contra o parabrisas, leves respingos como as lágrimas que não derramei.
O dia nasce, num céu cinza que me traz a calma.
Num frio que me aquece a alma.
E vem a tormenta.
A agua que cai com violência,
limpa à força
e traz a paz.


Mayara S.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Infanto cai
Se fere
se corta
Mamãe beija o dodói
A dor passa
A cicatriz-marca
O tempo a não destrói.

Mayara S.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Mayara S.

Chá da noite

"Para que você possa tomar um chá melhor, é preciso esvaziar a xícara."
Não que fosse de todo ruim. Não era. Proporciona momentaneamente um sabor doce, até embriagante.
Mas depois de um tempo vem aquela sensação amarga que começa no fundo da garganta e se espalha por toda a boca. Escovação, antiséptico - nada resolve. Causa incômodo. Irrita. Mas vícios são vícios. Paciência! Logo mais você enche a xícara novamente... Às vezes quente, mas em sua maioria gelado. E de nada adianta o armário cheio de outros sabores quando o único que salta às vistas e ao paladar é aquele. Esvazia a xícara. Detergente, água sanitária, creolina. Vestígios teimosos! Nada te tira o sabor da mente.


Mayara S.

terça-feira, 6 de março de 2012

Não quero o ópio
se o preço
é não viver intensamente

Mayara S.

Hodierno


Um prédio antigo e boas lembranças
Sentar ao sol com uma brisa leve, 
o som de pássaros e conversas distantes,
enquanto folheia um livro qualquer.

Abraços, há tanto tempo não dados
Ter a saudade já serenada
Repetir beijos, ainda que tão recentes
Rememorar ansiosamente.

Mayara S.

segunda-feira, 5 de março de 2012

désir

O desejo é tanto que em mim não cabe
De ter
De doar
De ser
De tudo. Olhar para o tempo e sentir que o venceu. Que nem um décimo de segundo foi desperdiçado com arrependimentos pelo não feito. 
Acertar, errar, aprender. Viver.
E é nessa pressa que tropeço. É desejo demais. Afobação demais.
Não me julgue mal pelos meus atropelos. É o desejo da vida que me toma.


Mayara S.

Fome de vontade

Se a fome é muita, qualquer coisa serve
Mas a vontade é coisa diferente
A chuva não supre a praia
A amizade não supera o amor
O jeans não supre a saia
Nem cordas de aço, o petit gâteau.

Mayara S.

domingo, 4 de março de 2012

Mayara S.

Se (de)tivesse...

O mau de ter é que a gente cega para o valor. Acha que nunca vai perder. Até que se vai...
- Se eu tivesse feito
- Se tivesse falado
- Mas eu ainda poderia...
A ausência dói. O sentimento de perda corrói. O remorso bagunça. 
Uma taça que se espatifa. 
Colhem-se os pedaços, mas o estrago é irremediável. Não pode mais ser taça. Mas ainda tem a arte. Cacos que se transformam em poesia. E a dor se torna bonita.

Mayara S.

sábado, 3 de março de 2012

Dente de leão

Vida
Passagem efêmera

Dente de leão, beleza que com um sopro se   d         s
                                                                                      e                  a
                                                                                                 f 
                                                                                                                        z     .    .    .

Mayara S.

Seco lago de sal

Triste que é uma lágrima só 
Caminha desacompanhada, carregada de dor
E tão fraca pra lavar a alma.



Mayara S.

El papa's poison



Mayara S.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Perco-me ao te encontrar
Perdoa, senhor, essa minha falta de direção
Tremores e arrepios
Eis o que fazem de mim
Passivo
Impassível
Em vão

Mayara S.

quinta-feira, 1 de março de 2012

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Love drunk


- Chega! Ande, faça o favor de ir embora e não me procurar mais.
- Mas por quê??? Não entendo. Sempre me doei ao máximo, cada atitude tomada pensando se te faria feliz. Abri mão de mim para ser teu. Não me entenda mal, isso não é uma cobrança. Apenas tento compreender a razão da sua decisão.
- Você me faz mal.
- De que maneira?
- Antes de te conhecer eu tinha um coração saudável. Agora tenho taquicardias o tempo todo. Quando você segura a minha mão. Quando me faz um elogio sincero. Quando penso em você.
- Só por isso?
- Não. Também me tornei dependente. A cada abraço rezo a todos os deuses para aquele momento não acabar. E quando acaba anseio pelo próximo. Você me vem à memória num estalo, coisas bobas me remetem a você. Me fazem sorrir sozinha, à toa.
- Ainda não entendi como isso pode ser razão pra você me querer longe.
- É simples, não percebe? São sintomas do vício. Estar contigo me faz tão feliz quanto triste quando está longe. Dói, machuca, e eu mal consigo esperar pra te ver de novo. Você é minha droga e beiro a morte por overdose com você.

Mayara S.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Perdoe se não consegui te amar
Meu coração tem falhas
de caráter.


Mayara S.
Lágrima
uma gota
e um oceano de sentimentos.


Mayara S.

Verbo de ligação

O desejo de partir contrasta com o de ser tua. Mesmo não te tendo por inteiro - nunca o tive. Provavelmente nunca terei. Sentimento insensato que se une à esperança - sua maldita! - de que mude, tudo mude, e se torne como idealizei.

Me despeço querendo ficar, porque sinto saudades adiantadas, a ausência na tua presença, pelo simples pensamento de partir. A mala está pronta ao pé da porta; o coração fica, não coube na bagagem. Tudo organizado, no lugar, mas com uma simples palavra reviraria meu mundo pelo avesso.

- Fica.

E tudo esqueço. Que se danem os nós - apenas você e eu.


Mayara S.