quinta-feira, 9 de agosto de 2012

De café morno a vodka

É bem verdade que sempre fui extremista. De não sentir nada ou me entregar pra valer, até que, bem como fogo de palha - uma comparação ordinária, porém cabível -, todo esse fervor passava, eu enjoava tal qual criança quando o brinquedo novo perde a graça.

Mas aí você envelhece - e talvez o cérebro e o resto do corpo não tenham mais a mesma disposição para tantas euforias como antes. Para alguém que sempre foi 8 ou 80, gostar de café morno é algo peculiar. Nunca me aprouve sentir a bebida amarga pelando a língua e queimando a garganta. Parece destruir as papilas e prejudicar o sabor final. Vai ver isso simplesmente contaminou o restante do meu sentir.

Ter o peito em ebulição agora dói. Porque uma hora os hormônios do prazer acabam e vem a tristeza, na mesma proporção, para equilibrar. Ou a raiva. E o peito fica agitado na mesma intensidade, mas de forma prejudicial. A serotonina dando lugar ao cortisol.

Dizem que a esperança é a última que morre, mas ninguém conta que ela ajuda a matar aos poucos. Ora, ela surge de forma insistente e com assuntos inapropriados. Logo, morremos de aflição pela expectativa antes que ela possa se esgotar.

Tenho-na como um cão em guia retrátil, dando-lhe mais ou menos corda conforme a ocasião permite; procurando pingar água gelada quando quer esquentar em excesso ou riscar um fósforo com um pouco de conhaque se ameniza demais. Que me queime, hoje o que agrada é apenas um bom vinho ou uma mistura doce com vodka. Mas nunca deixo de alimentar as brasas, que queimam lenta mas longamente, e apesar de não emanar tanto calor, não me deixam passar frio. 

Mayara S.

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