domingo, 26 de agosto de 2012

Chico e Los Hermanos sabem o que falam.


      - Por que demoramos tanto para ficar juntos?
    "Porque fui estúpida todo esse tempo e ceguei para o seu valor. E corri atrás de quem nunca, de fato, gostou de mim. Eu fui apenas tapa-buracos." - Ela pensou. Mas naqueles centésimos de segundo entre a pergunta e a resposta em voz alta, soou-lhe mais apropriado dizer-lhe apenas: "Pelo menos agora sei dar valor a cada minuto que passo contigo", naquela mesma voz falha de uma semana antes, quando, depois troca de carinhos - de carícias - ele a pediu em namoro. Mas isso não tornou a resposta menos verdadeira. Chico Buarque já cantou: 

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio


        Se não tivesse sido boba, desperdiçado sua companhia, meses atrás, na esperança por alguém que nunca lhe gostou de fato, estariam juntos, assim, oficialmente, para chamar de meu e minha namorado(a), tão logo quanto. Mas talvez ela precisasse sofrer, se magoar, ouvir desculpas polidas disfarçadas de preocupação com o que chamaram de amizade, para enxergar, muito limpidamente, que este é a melhor companhia e companheiro que ela poderia conhecer. E o mais estranho de tudo é que ele sempre lhe vinha à cabeça. Mas ela achava isso errado, era como ser apaixonada por duas pessoas ao mesmo tempo, numa espécie de bigamia que parecia-lhe imoral. E mesmo assim, ele sempre estava lá.
      Ela, ansiosa e tão instável quando nitroglicerina, aprende com ele a levar os dias com mais calma, posto que é a serenidade em forma de gente - e cachos. Aprende que não é preciso tagarelar o tempo todo, que o silêncio não é constrangimento. E que ela pode amar e ser amada de volta, com muita franqueza.
     Aquele medo da rejeição repentina se esvai cada dia a mais. No lugar disto nasce e cresce um amor, daqueles dos quais ela sempre fez objeto de deboche, como se fruto de uma novela mexicana. Desses que tiram-lhe o sono no meio da madrugada, que sobressalta-lhe apenas com um bip de mensagens no celular, ou dá-lhe calafrios horas antes do reencontro. Porque a sensação é a de que, cada dia passado e aumentado esse amor, tudo recomeça: a ansiedade pelo encontro se renova, as mãos suando frio, as pernas a tremer ao ver-lhe já a poucos metros de distância, e a vontade de abraçá-lo e congelar o resto do mundo enquanto vive o seu amor com a intensidade que gostaria. E, apenas de lembrar-se das declarações de amor, chora. Mas desta vez, não mais a tristeza ou a mágoa constituem as lágrimas. É a felicidade por ter a sorte de alguém assim, de índole tão boa, que a faz tão bem, e que apesar de todos os erros, todas as mancadas, ainda a quer para si. E ela adormece, naquele choro baixinho, contido, e feliz, a relembrar o "eu também te amo, eu também te amo mesmo",  enquanto cantarola mentalmente:

Eu encontrei quando não quis
Mais procurar o meu amor
E quanto levou foi pr'eu merecer
Antes um mês e eu já não sei
E até quem me vê lendo o jornal
Na fila do pão, sabe que eu te encontrei
E ninguém dirá que é tarde demais
Que é tão diferente assim
Do nosso amor a gente é que sabe...


(Mayara S.)

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