- Por que demoramos tanto para ficar juntos?
"Porque fui estúpida todo esse tempo e ceguei para o seu valor. E corri atrás de quem nunca, de fato, gostou de mim. Eu fui apenas tapa-buracos." - Ela pensou. Mas naqueles centésimos de segundo entre a pergunta e a resposta em voz alta, soou-lhe mais apropriado dizer-lhe apenas: "Pelo menos agora sei dar valor a cada minuto que passo contigo", naquela mesma voz falha de uma semana antes, quando, depois troca de carinhos - de carícias - ele a pediu em namoro. Mas isso não tornou a resposta menos verdadeira. Chico Buarque já cantou:
Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio ♫
Se não tivesse sido boba, desperdiçado sua companhia, meses atrás, na esperança por alguém que nunca lhe gostou de fato, estariam juntos, assim, oficialmente, para chamar de meu e minha namorado(a), tão logo quanto. Mas talvez ela precisasse sofrer, se magoar, ouvir desculpas polidas disfarçadas de preocupação com o que chamaram de amizade, para enxergar, muito limpidamente, que este é a melhor companhia e companheiro que ela poderia conhecer. E o mais estranho de tudo é que ele sempre lhe vinha à cabeça. Mas ela achava isso errado, era como ser apaixonada por duas pessoas ao mesmo tempo, numa espécie de bigamia que parecia-lhe imoral. E mesmo assim, ele sempre estava lá.
Ela, ansiosa e tão instável quando nitroglicerina, aprende com ele a levar os dias com mais calma, posto que é a serenidade em forma de gente - e cachos. Aprende que não é preciso tagarelar o tempo todo, que o silêncio não é constrangimento. E que ela pode amar e ser amada de volta, com muita franqueza.
Aquele medo da rejeição repentina se esvai cada dia a mais. No lugar disto nasce e cresce um amor, daqueles dos quais ela sempre fez objeto de deboche, como se fruto de uma novela mexicana. Desses que tiram-lhe o sono no meio da madrugada, que sobressalta-lhe apenas com um bip de mensagens no celular, ou dá-lhe calafrios horas antes do reencontro. Porque a sensação é a de que, cada dia passado e aumentado esse amor, tudo recomeça: a ansiedade pelo encontro se renova, as mãos suando frio, as pernas a tremer ao ver-lhe já a poucos metros de distância, e a vontade de abraçá-lo e congelar o resto do mundo enquanto vive o seu amor com a intensidade que gostaria. E, apenas de lembrar-se das declarações de amor, chora. Mas desta vez, não mais a tristeza ou a mágoa constituem as lágrimas. É a felicidade por ter a sorte de alguém assim, de índole tão boa, que a faz tão bem, e que apesar de todos os erros, todas as mancadas, ainda a quer para si. E ela adormece, naquele choro baixinho, contido, e feliz, a relembrar o "eu também te amo, eu também te amo mesmo", enquanto cantarola mentalmente:
Eu encontrei quando não quis
Mais procurar o meu amor
E quanto levou foi pr'eu merecer
Antes um mês e eu já não sei
E até quem me vê lendo o jornal
Na fila do pão, sabe que eu te encontrei
E ninguém dirá que é tarde demais
Que é tão diferente assim
Do nosso amor a gente é que sabe... ♫
(Mayara S.)