terça-feira, 18 de setembro de 2012

Primeiro mês.


Desejo teus abraços a cada dia, até a pouca melanina se esvair dos meus cabelos, até a pele perder a elasticidade. Cada ruga surgida enquanto te tenho comigo será de sorrisos, nos cantinhos externos dos olhos, de felicidade.

E mesmo com os movimentos restritos e mais lentos, e a memória teimando em falhar, me lembrar de desejar que aquelas histórias de reencarnações sejam verdadeiras, só para eu ter esperanças de viver mais infinitas vidas ao seu lado.

Tua mão na minha: armadura contra as infelicidades. Teu colo: minha canção de ninar. Teu amor que me afaga e faz meus dias mais felizes.

Trinta dias de saudades diárias, amenizadas por poucas míseras horas durante um dia no final de semana. Quatro semanas de sorrisos com mensagens ao acordar e dormir. Um mês de amores, que anestesiam boa parte das minhas pressões e preocupações. Apenas o primeiro da vida.

Te amo, hoje um mês mais. 

A/c: Jônatas Freitas.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Por conta de dez centavos.

Aquela moça estranha, remexendo nas moedas, observando detalhes, naquela temperatura escaldante que só essa cidade sabe emitir. Dez minutos. Vinte. Nada do seu ônibus aparecer.
Chega uma mulher, senta-se ao seu lado e a encara. Não é a primeira vez, e apesar de causar-lhe constrangimento, ela já se acostumou. Debaixo desse sol de 40 graus é mesmo surpreendente que sua pele ainda não tivesse sido castigadamente queimada. Ela até tenta imaginar como fugir de um câncer de pele nas próximas décadas. 
Mas o que a entretém mesmo são as moedas. Durante aquela espera prolongada, pelo transporte azulzinho que parece fazer questão de demorar, o que lhe resta é observar banalidades. 
O ano é 2012 e ela para e olha atentamente. 1994. Aquela mísera moeda de R$0,10 foi cunhada em 1994. Tinha apenas seis anos e também passava por mudanças. Mudança de escola. E aí sua timidez aflorou, a moça consegue se lembrar. Gente nova, estranha, o projeto de capeta agora se envergonhava. Não tinha coragem de levantar a mão sequer para pedir para beber água ou ir ao banheiro. Gente estranha sempre a apavorou, e ficar cercada assim só piorou tudo. A criança danada, que pulava janelas, tomava as tarefas dos colegas para ela própria terminá-las agora se via por demais retraída. Dezoito anos depois ela ainda tem que lidar com isso.
Ela não sabia ao certo o que queria ser na vida. Naquela cerimônia de encerramento do Ensino Infantil todas as crianças ao redor sabiam que profissão desejavam. Mas ela cuspiu a primeira coisa que lhe veio à mente. Não imaginava que quase duas décadas depois ainda sentiria essa indecisão. Que faria algo que gosta, mas que teria tantas outras mais que fariam seus olhos brilharem. Não imaginava que gordinha ainda seria por boa parte da sua vida. Que teria um câncer aos 19. Que, aos 22, faria uma redução de estômago - como uma criança imaginaria isso? - para só então ter um aspecto mais saudável e agradável aos seus próprios olhos. Que passaria por tantos amores, desamores, aventuras e desventuras, ao longo das décadas. Que se preocuparia tanto com prazos, horário de sono, com emprego ou plano de saúde. Que viveria um amor tão forte que a faz levar mais fácil todas as preocupações supracitadas. Não, não imaginava nada disso. Nem poderia. Estava com a cabeça onde deveria estar: aprender a ler, escrever, fazer umas contas bobas de matemática e brincar. Além de contornar o mandonismo da irmã mais velha que insistia em colocar-lhe de castigo como se sua mãe fosse.
E é no improviso, dançando e fazendo piruetas na corda bamba pra lidar com as piadas - inclusive o esporádico humor negro - da vida que ela vai a caminho da terceira década.
Que seja feliz rumo ao 25º ano. É o único desejo certo que ela tem.


Mayara S.
Excessiva calma que apavora. Ausência quase total de sons, em que só é perceptível o pulsar do coração e até a respiração parece tão tranquila a ponto de quase não existir. É ela quem assusta; a possibilidade de um caos muito próximo e o corpo relaxado, flácido, despreparado para a fuga quando esta se fizer necessária.
Talvez seja relevante a retaguarda, o sobreaviso. Dormir sem relaxar completamente, pronta para o contra-ataque. Ou talvez sejam apenas delírios de quem precisa estar envolto em algum tipo de sentimento, da taquicardia constante, só para o coração não desacostumar.

Mayara S.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Teia

Casa
trabalho
amor
amizades
saúde
diversão
responsabilidades.
A vida
embaraça
entremeia
entrelaça
Tudo-tão-entranhado
Cadê minha caixa do nada?

Mayara S.

Acalanto

É num teu abraço que me acalmo. Toda aflição, toda angústia - tudo parece se anestesiar. Estar envolta em teus braços é a materialização na segurança que me proporcionas, como ser escoltada por uma matilha. Como a cria de uma mãe leoa.
Não que tua companhia suma com os problemas; isto é uma infelicidade. Mas dá-me o conforto de saber que não estou só, e mesmo que tudo dê errado, ainda tenho você. E isto me basta.

Teu abraço, minha canção de ninar.

Mayara S.

sábado, 8 de setembro de 2012

Aflição que te toma o peito,
te toma o ar,
toma tudo o que te faz viver. 
Adormece-te para o resto do mundo,
sem te deixar adormecer. 

Mayara S.

domingo, 2 de setembro de 2012

Sob tuas telhas


Chego ao portão e já sinto teu cheiro - está por toda a casa, inebriante. 

Entre um beijo e outro, o ouvido encostado no teu peito, sinto-o pulsar. O meu, tão forte, que a certa altura já não sei o que é meu, o que é teu, ou se é nosso.

Entre silêncios e piadas bobas, o abraço que poderia durar uma vida. Cada sinal, cada curva, cada pelo despontado da barba. Percorro minha mão no teu rosto, pedindo que fosse possível que o mundo se esquecesse de nós pela próxima semana. E poder aproveitar uma centena de minutos assim.

Amanhecer-te em mim.


Mayara S.